Sala de Leitura “Interiores da Mente” abre as gavetas da psique, revisitando o tempo e as memórias.
- projeto Fabiano Ravaglia
- ano 2021
- render MM Studio
Ambiente Sala de Leitura “Interiores da Mente”.
A pandemia nos convidou a mergulhar dentro de nós mesmos, revisitar sentimentos, memórias, um repertório sensorial que para muitos pode ser doloroso. Afinal, não é fácil abrir as gavetas da mente que muitas vezes bloqueamos, seja pela correria do dia a dia ou por autopreservação. Sob essa perspectiva, a Sala de Leitura “Interiores da Mente” é uma metáfora da psique do arquiteto que, sem medo de se expor, mostra os ruídos mentais, ansiedade, crises até existenciais que o último ano despertou nele, de forma amplificada.
O hall de entrada antecipa o que está por vir nos interiores da mente através de uma complexa marcenaria de sobreposição de caixas e peças de antiquário que representam a nossa percepção de tempo e memória. Entre caixas, maletas, mesas e gavetas, os pontos de luz fazem as vezes dos impulsos elétricos das sinapses neuronais que carregam as informações sensoriais e acessam esses sentimentos. Enquanto isso, no aparador de design autoral, uma intervenção intitulada “Time Pills” do artista Beto Gatti, em parceria com Paloma Danemberg, assim como as artes “Projeção do Tempo I e II” e “Tempo”, em sua coleção colaborativa “Marcas do Tempo”, trazem a reflexão da preservação do tempo e das memórias, que complementa a narrativa do ambiente. Sobre o piso em mármore, tapete “Stroke” da designer holandesa Sabine Marcelis traz os traços e gestos do marca-texto.
Já na sala de leitura, um generoso pé direito com vãos em arcos, piso em mármore e paredes texturizadas nos remetem a um classicismo revisitado pela contemporaneidade. Uma extensa sobreposição de gavetas e nichos e mobiliário de antiquário da AD Studio dão sequência ao hall de entrada e, ao contrário de uma tradicional sala de leitura ou biblioteca, onde livros estão sempre expostos, o projeto traz a provocação das gavetas, o movimento de abertura e de descobertas, assim como as nossas gavetas das memórias.
O sofá de design autoral em formato curvo com tecido Empório Beraldin foi desenhado em contraposição aos ângulos retos da marcenaria, assim como a mesa de leitura em resina que se encaixa ao mobiliário central, em sintonia fina com a poltrona, também em design autoral, que traz a transparência e fragilidade do vidro estampadas em um gradiente de cores – afinal, nossas fragilidades muitas vezes são reflexos do medo de ser quem somos. Na decoração, a iluminação traz significados, como o backlight com persianas Uniflex, que cria uma contraluz possível de ser controlado, e o neon desenhado em formato de dois rostos, que pode ser representado como os nossos extremos de personalidade.
Para o arquiteto, o espaço projetado é um lugar de organização dos pensamentos, do resgate aos relacionamentos familiares do passado – como o banco “Fiote”, desenhado após o falecimento do seu pai, com três pés diferentes simbolizando os filhos – e um lugar de cura, representado pelas artes “Luz”, de Shirley Paes Leme - disponível na Carbono Galeria - e “Jardim Suspenso”, de Marcelo Tinoco, representado pela Zipper Galeria.